“Às vezes fico pensando porque Deus fez nós índios falar cada um uma língua diferente. Mas acho que é porque nós falamos a língua da terra, das matas, dos bichos. Os animais da caatinga não são os mesmos da floresta, como é que a nossa língua ia ser a mesma? A língua dos Fulni ôs é a língua do sertão, da seca, daquelas pedras, daquelas plantas, dos calangos… não podia ser a mesma língua de quem vive na Amazônia, onde chove todo dia. E por isso que é importante que cada um de nós preserve a nossa língua, porque é a língua que conhece as plantas da nossa região, os animais, que conhece a vida na seca…”
Parece poesia, mas foi só uma conversa com a jornalista Amazonir, que pertence à etnia Fulni ô – povo de cantos fortes e alegria transbordante que vive no interior de Pernambuco, lutando contra a seca e pelo direito à terra.
Lembro dos Fulni ô cantando à noite em volta da fogueira, vozes potentes de timbres que se completam preenchendo espaços e corações. Era contagiante e eles sabiam: nos convidavam a acompanhá-los. Algumas frases em português para facilitar intercaladas com outras em Iatê, sua língua. Nada mais justo. “ Agora é homens contra mulheres para ver quem canta mais”. E a brincadeira seguia.
A Amazonir escreve um blog sobre questões indígenas: http://amazonirfulnio.blogspot.com.br/
E a bela matéria da Andressa sobre a festa dos Fulni ô na Aldeia Multiétnica: http://www.encontrodeculturas.com.br/2017/noticia/975/fulni-o-o-povo-que-luta-espalhando-alegria