Muitas formas de conhecer a Chapada

A Chapada Diamantina é enorme, são 1.521 quilômetros quadrados que passam por diversas cidades do interior da Bahia entre cachoeiras, rios, paredões de pedra, grutas e paisagens impressionantes. De longe, é muito difícil entender sua extensão, as diversas atrações e a locomoção para chegar até elas.

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Apesar das muitas dúvidas, eu já cheguei em Lençóis sonhando com a travessia do Vale do Pati, que é considerado um dos trekkings mais bonitos do mundo. Além das paisagens, parecia muito legal também dormir na casa dos moradores tradicionais da região (que foi muito melhor do que eu poderia imaginar, como vou contar mais pra frente), mas estava com medo de não aguentar a caminhada por falta de condicionamento físico, de um lado, e pelo cansaço já acumulado da viagem e do carnaval, de outro. Nas agências, todos diziam que eu aguentaria, sim, que até gente mais velha faz essa trilha… claro que eles queriam vender o pacote deles, mas acreditei que não seriam tão irresponsáveis assim e fui! Com medo, mas feliz da vida… e poucas coisas muito boas na vida vêm sem ser preciso enfrentar um pouco de medo, né?

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Cheguei na Chapada no início de março e, como já não era considerado época de temporada, não era todo dia que saía grupo para fazer a travessia do Pati. Como fiquei com medo de isso acontecer, contatei algumas agências uns dias antes de chegar, mas, em geral, elas só sabiam dizer na véspera se sairia um grupo ao qual eu pudesse me juntar no dia seguinte.

Na primeira tentativa não deu certo e, para não ficar sem atividade, me encaixei num outro passeio de um dia só, mas muito bonito. No segundo dia, achei um grupo por indicação do hostel, mas era um grupo de sete pessoas e fiquei com receio de ficar de lanterninha da turma, atrasando o grupo todo hahaha… No mesmo dia, mais tarde, descobri que uma das agências que eu tinha contatado ia ter grupo para o dia seguinte, o valor, sempre salgado, era o mesmo desse primeiro grupo e a turma menor, então fechei com eles. Também tinha simpatizado mais com o guia desse segundo grupo, mas no fim das contas não foi ele quem nos levou, já que a agência trocou de guia no dia do passeio sem aviso. Foi bom também, mas vi várias pessoas falando para escolher um guia que você tivesse simpatizado e se você fecha por agência, isso pode não adiantar nada. Para quem já vai com um grupo, aí sim, é mais fácil fechar na Associação de Condutores de Visitantes de Lençóis diretamente com um que te pareça bom e não correr mais esse risco.

Também tem travessias de diferentes distâncias: de três, cinco, de sete e até mais. Eu fiz a de três dias, 57 Km, e foi tranquilo. Um pouco mais de habilidade motora para as pedras seria bom, mas pela caminhada foi só dar umas paradinhas durante as subidas e ir com fé. E ainda pretendo voltar para fazer a de cinco dias!

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57 km de caminhada…

Chapada para todos
O que eu aprendi é que tem Chapada Diamantina para quase todos os estilos e idades. Há vários passeios em que é possível ir de carro, próprio ou da agências, até o início de uma pequena trilha para acessar mirantes, cachoeiras e grutas. É o caso do Morro do Pai Inácio, por exemplo, que é o mais famoso da Chapada e tem uma vista deslumbrante ao pôr do sol. É preciso encarar uma pequena trilha na pedra, mas o guia disse que mesmo as pessoas mais velhas conseguem fazer se não tiverem dificuldades para andar. Acho que é só ir no seu ritmo, com alguma ajuda do próprio guia se necessário.

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Por do sol no Morro do Pai Inácio

Aliás, as agências vendem esse passeio no que elas chamam de roteiro 1: Rio Mucugezinho, Poço do Diabo, Gruta da Fumacinha, Fazenda Pratinha (Gruta Azul e Gruta da Pratinha) e Morro do Pai Inácio. E pelo que eu vi o roteiro é o mesmo em todas as agências. Se eu já tivesse um grupo, fecharia esse roteiro direto com o guia com menos atrações, para poder curtir melhor cada uma delas, sobretudo a da Pratinha, que achei um lugar lindíssimo e valeria ficar muito mais tempo por ali. Quando o grupo é muito grande, a gente também perde muito tempo esperando todo mundo para ir de um lugar pra outro e às vezes perde um pouco a calma para a contemplação do lugar se esse for seu espírito. O bom, por outro lado, é que se você só tiver um feriado prolongado, consegue ver vários lugares maravilhosos da Chapada de uma só vez. E, claro, também sai mais barato do que fechar cada um desses passeios por vez, pelo menos no esquema das agências.

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Pratinha

Locomoção
Já para ir para as outras cidades da região de ônibus comum pode ser bem complicado. Eu queria ir para Mucugê e Ibicoara (cachoeira do Buracão), na parte mais ao sul da Chapada. Aí descobri que tinha que ligar de manhã na rodoviária para saber se tinha lugar no ônibus. Se tivesse, teria que ir até uma estrada na saída da cidade onde o ônibus ia parar dali uns 30 minutos. De Mucugê para Ibicoara também não ia ser muito simples e a cachoeira que eu ia ver ainda ficava longe do centro da cidade… Acabei achando uma agência que ia fazer esse roteiro para duas pessoas só. Tinha lugar no carro e eu fui com eles. Fica mais caro, mas não tem outras preocupações… Como fizemos o roteiro em dois dias e com poucas pessoas, também deu pra aproveitar bem cada lugar e sem pressa. Ouvi dizer que fazem o cachoeirão saindo e voltando de Lençóis no mesmo dia, mas deve ser muito cansativo, porque é beeem longe. E também perde a oportunidade de passar por Mucugê e pelos Poços Azul e Encantado já no caminho.

Por fim, apesar da locomoção entre as cidades da Chapada ser complicada, algumas atrações a gente consegue fazer a pé saindo de Lençóis (que é a cidade com mais estrutura e onde eu fiquei mais tempo). Tem algumas cachoeiras bem perto do centro da cidade e que são fáceis de chegar. Ouvi falar de alguns assaltos na trilha e não recomendaria ir sozinha, mas fui com um grupo de gringos que conheci na véspera e foi muito tranquilo. Nas agências, achei o preço muito caro para um passeio que você pode fazer sem guia e sem carro, talvez negociando com o guia diretamente na associação de guias seja mais negócio. Já para as trilhas maiores, eu não iria sem guia, ouvi algumas histórias de gente que foi e se perdeu, se machucou no caminho e não conseguia voltar…

Uma dessas cachoeiras de Lençóis é famosa por ter um escorregador natural. Muita emoção subir nessas pedras sem cair, depois sentar, dar o impulso, ver o corpo pegando velocidade, você perdendo controle até cair na água e ver que deu tudo certo mesmo! De longe, parece que as pessoas vão cair e bater de cabeça na pedra, mas não vi isso acontecer… O máximo que vi foi furar a cueca de um francês que se viciou nessa brincadeira (e tava escorregando de cueca!).

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Tobogã natural

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